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Enf.ª Patrícia Sancho

Especialista em Saúde Materna e Obstétrica
Responsável do Serviço Ginecologia/Obstetrícia
Doutorada em Ciências 
da Educação

 

Enf.ª Patrícia Sancho

Cuidados Pré-Natais no golden standard da prevenção do parto prematuro

HPA Magazine 22 // 2024



Um parto pré-termo é um problema de saúde pública (Amegah, 2023) que afeta milhões de bebés e famílias em todo o mundo. Estima-se que em cada 10 bebés que nascem, 1 é prematuro e a cada 40 segundos, 1 desses bebés não sobrevive (WHO, 2023, a)). 
Mais de 80% de todas as mortes de recém-nascidos resultam de três condições evitáveis e tratáveis, uma delas resulta das complicações devidas à prematuridade (WHO, 2014).

 

 


Cuidados Pré-Natais no golden standard da prevenção do parto prematuro


 

Um parto prematuro (abaixo das 37 semanas), é dos desafios mais exigentes e complexos da Obstetrícia que implica que o feto seja privado do desenvolvimento que ocorre nas últimas semanas de gravidez, podendo mesmo não ser concluída a formação e o adequado desenvolvimento de alguns orgãos nomeadamente o cérebro, pulmões e fígado. Quanto mais prematuramente nascer um bebé, maiores as taxas de morte ou incapacidade podem acontecer, nomeadamente sequelas do foro respiratório, atraso no desenvolvimento, problemas de visão, problemas de audição, entre outras (CDCP, 2024; ACOG; 2021). 

Um desfecho abrupto da gravidez antes do seu termo tem igualmente um impacto emocional na mulher e familia, além dos custos económicos poderem ser mais avolumados (CDCP, 2024).
Atendento a que o parto prematuro é das principais causas de mortalidade neonatal e o motivo mais comum de hospitalização pré-natal (ACOG, 2016) apostar na prevenção do parto prematuro é por isso fundamental.

A European Foundation for the Care of Newborn Infants (EFCNI, 2022) alerta para que a prevenção se inicie ainda na fase pré-concecional. Sabemos que ao ser realizada uma boa vigilância de saúde que contempla o reconhecimento dos sinais de risco e a adopção de hábitos de vida mais salutares, estes podem impactar na redução do risco de parto prematuro na gravidez (EFCNI, 2022; WHO, b)).

Na gravidez, apostar na vigilância, sobretudo através de rastreios mais precoces, sensivelmente 12 semanas de idade gestacional, a adopção de uma alimentação cuidada e saudável, associada à redução de hábitos como o tabagismo e/ou consumos de drogas, apostando na atividade física adequada, aliada a um bom descanso e à manutenção do bem-estar emocional, são fatores protetores que concorrem para a prevenção do parto prematuro (EFCNI, 2022; WHO, 2023 c); APBP, s/d). 

 

Na gravidez, aquando da vigilância pré-natal, além dos rastreios, nomeadamente o rastreio realizado no 1.º trimestre para o risco de pré-eclâmpsia, existem outras medidas preventivas, tais como a medição do colo do útero, aquando da ecografia do 2.º trimestre, bem como a adoção de medicação, que pode ser indicada no caso do mesmo se encontrar encurtado ou se existir historial de parto prematuro. O recurso ao teste de fibronectina fetal, combinado ou não com a medição do colo uterino em mulheres grávidas sintomáticas, pode ajudar, mas não deverá ser utilizado exclusivamente para direcionar o tratamento em contexto de sintomatologia aguda (ACOG, 2021). Pode ainda ser ponderado recorrer a uma cerclagem (sutura no colo do utero de forma a mantê-lo fechado) (APBP, s/d), entre outras medidas farmacológicas que permitem prolongar a gravidez, controlar eventual infeção e ou inibir as contrações uterinas (ACOG; 2021). 

As medidas não farmacológicas adotadas, tais como o repouso total, a abstinência de relações sexuais e a hidratação, têm falta de evidência relativamente à sua eficácia na prevenção do parto prematuro, inclusive têm efeitos adversos descritos. No entanto, a sua adopção aquando de ameaça de parto pré-termo deverá ser considerada como complemento ao tratamento, mediante contexto clínico e idade gestacional (ACOG; 2021).

A International Federation of Gynecology and Obstetrics lança este ano a iniciativa PremPrep-5, que pretende disseminar informação sobre 5 intervenções simples e eficazes na abordagem ao parto prematuro. São elas: a realização de corticoides e sulfato de magnésio na gravidez; no parto, o clampeamento tardio do cordão umbilical (pelo menos durante 1 minuto, a menos que o bebé necessite manobras de reanimação) e após o parto, a oferta precoce de leite humano e método canguru imediato (Megan, 2024; ACOG, 2021).

Atualmente 2,6 milhões de bebés não sobrevivem em todo o mundo, sendo que quase todas estas mortes podem ser evitáveis (Lawn, 2024), por isso a abordagem preventiva do parto prematuro e a sua deteção precoce são uma preocupação na Obstetrícia.